Lipot Szondi. Caim e o Cainismo na História Universal.
Prologo
Caim rege o mundo. E, para aquele que duvida, nós aconselhamos que leia a História Universal. O Historiador não dissimula que a essência da História Universal é a luta. O analista do destino disse: “A maior parte da História Universal está constituída pela eterna repetição da história de Caim”.
O historiador estabelece claramente que a História Universal não é a realização de um continuo progresso de baixo para cima, do maior ao menor, da escravidão à liberdade. Sua opinião é de que a História Universal representa, melhor, uma linha tortuosa de crueldades. À perfeição segue imediatamente a caída no precipício. A História Universal registra quando o povo crucifica ou queima profetas e santos, tribunos e missionários. Comprova que um imperador romano, Nero (Lucius Domitius Nero), assassina a seu irmão, a sua mãe, a sua esposa, assim como a seu preceptor; que incendeia por puro prazer Roma e que realiza a primeira perseguição aos cristãos, encontrando assim um “bode expiatório”. Na História Universal se “profana, com demasiada frequência, a razão pela paixão”.
E quando frequentemente se “sacrifica a flor e a esperança da vida à ambição, à inveja e à vaidade”. Assim se expressa o historiador.
Ambição, inveja e a vaidade são peculiares em Caim. Não Deus, senão Caim, é o nome do homem que se manifesta na História Universal. Assim pensa o psicólogo do destino. Qualquer atrito entre os homens – ainda quando seja mínima – é suficiente para despertar o eterno Caim.
Ao longo de milhares e milhares de anos não diminuiu a atividade de matar em Caim. Persiste o “fratricídio”. Subsiste exposto nas profundezas da alma pela lenda bíblica com a qual começa a história do mundo. Os sentimentos dos dois irmãos permaneceram idênticos. O historiador o expressa assim: “A família luta contra a família, o povo contra a cidade, o cavaleiro contra o cidadão, o príncipe contra a Igreja e o aristocrata, o crente contra o ateu, o povo culto contra o povo primitivo, a nação contra os opressores, o continente contra os poderosos do mar, as confederações estatais contra o superestado, os sistemas de estado Universal contra o impulso imperialista; também o camponês contra o terratenente, o cidadão contra os privilegiados, o liberal contra a burocracia, o parlamentar contra a coroa, o pacifista contra os militaristas, o trabalhador contra o capital, o terrorista contra a sociedade, o anarquista contra a deificação do estado”.
O sentimento homicida de Caim se percebe facilmente. Este sentimento de matar encontrou na História Universal, uma e outra vez, novas metas e novos motivos para matar. Caim, entretanto, não é somente o portador do sentimento de matar. Não somente acumula em si ira e ódio, fúria e vingança, inveja e ciúmes, que descarrega logo repentinamente de forma explosiva; Caim também canaliza, sem limites, a ânsia de impor-se. Deseja tomar posse de tudo que têm valor e aumentar ilimitadamente seu poderio no ter e no ser.